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Sobre amar e retribuir (?)

Uma senhora, por volta de 80 anos, estava na minha frente entre os "clientes de encaixe"do clínico geral/cardiologista hoje. Ela estava acompanhada da neta: entre 18 e 20 anos, com óculos sou-nerd e aquele visual casual natural do carioca Zona Sul. Poderia tudo aquilo ser uma obrigação, mas a garota parecia estar de alguma maneira bem por ter a responsabilidade de levar a sua avó já tão decrépita ao médico. A senhora, ao ser chamada, foi prontamente ajudada pela neta,e toda essa cena remeteu um passado muito feliz.
Lembrei da minha avó e de todos os cuidados que a "minha velha" teve um dia comigo. Lembro do pé-de-goiaba no quintal da sua casa em Cristalândia, uma cidade esquecida pelo mundo no interior do Tocantins. Lembro de toda a felicidade naquele pé e dos seus gritos dias e dias para eu "descer daquele pé logo, que está tarde!". As formigas que percorriam os galhos eram grandes e davam medo, e eu confesso que era muito medrosa... nunca passei do galho principal da árvore, o mais grosso e forte. E ela achava tudo aquilo ótimo, como se fosse uma grande realização eu conseguir subir naquela árvore dentre tantas outras no seu quintal.
Os outros podem achar que não, mas para mim realmente era um desafio subir ali. 7 anos e eu nem sabia andar de bicicleta de medo! MEDO DE CAIR! E em dois meses ela simplesmente conseguiu tirar essa medo, me incentivou a pedalar e a... subir no pé de goiaba! Era uma realização sua neta mais "frágil" ali em cima, como uma moleca, aproveitando o dia quente fora do quarto e da televisão.

Ao ver aquela senhora tão frágil eu lembrei da minha forte avó, e todos os laços que temos, não por sermos da mesma família, mas por nos amarmos. Entendi aquela cena como uma retribuição a tantos momentos bons que aquela senhora teria dado a sua neta (e que ainda dá!) quando mais nova, fosse nos doces, nos presentes, ou em momentos felizes, simples assim. A gente faz isso naturalmente por quem ama, sem dor e sofrimento.
Atualmnte estou longe e mal consigo ligar para a"minha velha", pois não consigo balbuciar mais que alguns palavras sem cair no choro. Ela ri do outro lado da linha, com toda aquela experiência de quem já viveu oito décadas e esclarece tudo de uma maneira muito simples. Diz com aquela linguagem simples que a vida é assim mesmo, e temos que ser fortes para viver, as vezes longe de quem a gente ama, mas isso é necessário e vai ser bom pra gente. Pensando bem, acho que apesar de tudo, ela ainda parece mais cuidar de mim que o contrário.

Essa semana vi a minha vozinha que mora tão longe. Acho que posso me sentir um privilegiado por isso. Nunca é fácil estar longe de quem se ama. Você sabe bem.

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